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(Abertura)
Parte 4
Querido/a filho/a
Hoje o Rei não me chamou. Diego me falou que quer envenenar o Rei, porque ele me fez mal. Ele, de manhã, viu as marcas no meu corpo, mas eu já estou melhor, uma dor aqui ou ali, mas nada demais. O Diego me falou que gosta de mim, e que não queria que eu saísse magoada por nada. Ele se aproximou e me deu um beijo. Eu fiquei corada e muito feliz, mas não pude falar nada. Os guardas se aproximaram depois que Diego me beijou, mas eles não viram nada. Eu sinto enjoos e uma senhora falou que eu estou grávida. Não sei o que é estar grávida, mas, se for uma doença, e se eu morrer, melhor assim, já sofri muito, o meu maior arrependimento é não ter poder conhecer. Thiago está agora a cuidar das celas, pelo menos sei que Diego vai ter melhores tratos enquanto eu morro com essa doença. Amanhã falarei com a Rainha e me despedirei. Pelo menos pude sentir uma vez na vida amor!
Querido/a filho/a
A rainha riu de mim, me chamou de boba e eu sou muito boba, não sei de nada. Mas trago notícias boas, logo estarás comigo! E eu pensando que era uma doença, mas a Rainha logo fechou a cara, afinal, se eu estou grávida, é do Rei. Mas ela não me tratou diferente de como me tratava, então acho que aceitou e seguiu em frente. Eu sei que ela gosta dele e muito, mas é como o mundo é, as mulheres nada podem fazer! Será que Thiago ouviu que eu estou grávida? E Diego, que ficou do meu lado a noite toda, mesmo sabendo que o filho não é dele. Mas que posso eu fazer? Afinal, sou só uma mulher escrava! Hoje também conversei com Diego e Thiago; eles não gostam do rei e o querem matar. Diego já me tinha falado que o queria matar, mas nunca acreditei que eles se juntassem para isso. Eu tenho medo, mas vou com eles. Espero que ninguém morra!
Querido/a filho/a
Estou com medo de um deles morrer, não quero que nenhum morra. Diego vai ser a pessoa que vai estar lá para matar o Rei. Não é tão simples como parece, as coisas estão começando a acontecer de verdade, não é só colocar o veneno e está feito, tem que ser imperceptível, senão cortam a cabeça bem ali, na frente de todos, como já vi acontecer! Será que vale a pena arriscar a vida só para ter liberdade? A mulher aqui do lado falou várias vezes que preferia morrer, mas não é capaz de se matar, porém, e se alguém tirar a vida dela, seria melhor? Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém. Os que tiram a sua própria vida foram escolha deles, não mais de ninguém. Tinha um guarda que falava que isso era obra do Senhor, mas que senhor? Se os vi várias vezes laçando uma corda em seus pescoços e jogando para o alto, e eles se jogavam do monte de palha para o chão, não vi senhor algum os pedindo ou obrigando a fazer isso. Será que um senhor os colocou na cabeça falsas promessas, como um Bispo falou que nós, escravos, pertencemos ao Reino de Deus para sermos serviçais comandados pelo Diabo? Eu não sei do que ele fala, mas não quero continuar escrava depois que morrer, quero só apagar e não existir mais! Thiago é um bom guarda; ele me falou que o Bispo é igual a esses nobres e realeza, que são lobos em pele de cordeiro. Embora eu nunca tenha visto um lobo nem um cordeiro. Só Cordeiro morto na cozinha. Uma vez tive de cortar as pernas para ajudar na cozinha, e eles chamavam de iguaria. Não pude ajudar mais, porque os nobres não podem comer algo feito por nós, impuros! Ao escrever, eu me sinto mais calma, sinto que estou falando contigo já, e tu nem saíste de mim ainda. Mas eu te amo tanto.
(Encerramento)
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